Apontamentos sobre a wicca de Gardner segundo as concepções de Rodney Stark


        Segundo Rodney Stark (2006, p.30), “a base para o sucesso de um movimento são as redes sociais, ou seja, uma estrutura que o autor chama de vínculos interpessoais íntimos e diretos. Gerald Gardner a exemplo disso, não converteu no principio da wicca pessoas desconhecidas. Patrícia Crowther, uma das figuras mais famosas da wicca, conheceu Gardner através de seu futuro esposo, Arnold Crowter, velho amigo de Gardner (CROWTHER, 200, p.22). Jeffrey B. Russel e Brooks Alexander (2008, p.177) descrevem que no final de sua vida, “Gardner iniciou e treinou pessoas para agirem como propagadoras e propagandistas de sua doutrina”. A wicca em seus primeiros anos estava então vinculada a uma rede social que foi se expandindo, pois
À medida que o movimento cresce, sua face social se amplia na mesma proporção. Em outras palavras, cada novo membro expande o tamanho da rede de vínculos entre o grupo e os mais propensos a se converterem (STARK, 2006, p. 31).
            A rede social da wicca se ampliou a ponto de Buckland, com autorização dos wiccanos britânicos, introduzi-la nos Estados Unidos.
            Apenas por esses fatos já podemos desenvolver a idéia de que a wicca é um movimento de culto, pois começou pequeno, com Gardner tendo novas idéias religiosas, atraindo novos adeptos e sendo exportada para os Estados Unidos através de suas redes sociais.
            É importante colocar que os movimentos de culto só terão sucesso se forem constituído por redes abertas. Nessa perspectiva parece que Gardner tinha consciência disso, na medida que quando apresentou a wicca, apresentou-a como uma religião abeta a todos, com muito menos exigências para se iniciar que as sociedades esotéricas da época. Além disso, Gardner estava convencido desde o início que a publicidade era a chave para a sobrevivência da wicca (RUSSEL e ALEXANDER, 2008, p.172). Isso foi até mesmo um forte indicio de motivo do rompimento entre Gardner e Dorienn Valiente sua amiga pessoal, que ajudou-o a escrever seu livro das sombras.
            Segundo Stark (2008, p.200) as grandes religiões começaram tipicamente “com um indivíduo obscuro com uma nova idéia religiosa, e que se esforçou para convencer um punhado de gente”. Sendo assim continuando na teoria de Stark podemos perceber que a formação de cultos, passa por um processo de inovação de duas fases. A primeira seria a inovação de novas idéias religiosas, e a segunda, a aceitação social dessas idéias pelo menos a ponto de criar um grupo de devotos (STARCK, 2008, p.201). Se analisarmos a wicca e seu fundador Gerald Gardner, veremos que o funcionário público inglês criou de fato novas idéias religiosas. Aqui vale fazer uma observação. Podemos considerar que Gardner criou novas idéias religiosas na medida em que transpôs para a realidade a bruxaria como uma religião outrora marginal, influenciado pelas teorias de Murray sobre a permanência da bruxaria como culto agrário. No segundo ponto colocado por Stark, basta recordarmos o que foi descrito sobre as redes sociais, Gardner conseguiu em pouco tempo alguns adeptos conseguidos principalmente por sua exposição midiática. Stark (2008, p.201) ainda descreve que “talvez a maioria das pessoas que encontram novas idéias religiosas não iniciam novas religiões. O “talvez” colocado por Stark se enquadra perfeitamente no caso de Gardner, que expos logo de início que a wicca é uma religião. No caso de Gardner a palavra antecede a ação, primeiro veio a religião, depois as idéias foram sendo elaboradas. Isso deixou margens a interpretações de charlatanismo. Gardner se encaixa muito bem na definição de Stark sobre os fundadores de cultos. Segundo Stark (2008, p.202):

Os fundadores de cultos são especialistas religiosos ou magos que estabelecem novas organizações para criar, manter e trocar novos compensadores.

De fato Gardner já era um ocultista de certa fama dentro do mundo ocultista.

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