Definições - Feitiçaria e bruxaria

"O imaginário da Magia" (Companhia das Letras, 2004), de Francisco Bethencourt, que descreve as práticas de feitiçaria e advinhação em Portugal no século XVI é um daqueles livros que nos aproximam de uma leitura sociológica interessante, não só nos aproxima da bruxaria pelo viés histórico como também antropológicamente. Apoiadomuitas vezes num discurso durkheiniano, Bethencourt nos mostra vários aspectos das práticas daquele período. O livro é recheado de boas imagens e gráficos que ilustram muito bem as conclusões e argumentos do autor. O que  me  chamou a atenção na obra, fora a própria leitura do autor, foi principalmente o apanhado que ele faz das diferenciações entre feitiçaria e magia, também a questão dos trabalhos e feitiços com elementos, ar, água, terra, fogo, como símbolos mágicos, não só dentro do universo erudito da magia, mas também na esfera popular. Sobre isso ainda, Bethencourt mostra as diferenciações existentes entre magia popular e magia erudita. É um dos pouco trabalhos lançados no Brasil sobre o assunto. A apresentação de orelha é de Laura de Mello e Souza e a edição brasileira (que é esta) conta com um prefácio do autor à essa edição. Bom sem mais delongas coloquei aqui resumidamente as definições dos conceitos de bruxaria e feitiçaria para dois autores que trabalharam com o conceito de bruxaria e feitiçaria e a etimologia das palavras. 

O CONCEITO DE BRUXARIA E FEITIÇARIA[1]

Kluckhohn:
Num trabalho sobre os índios navajos, ele chegou a conclusão de que a bruxaria é entendida como um conjunto de técnicas de manipulação do sobrenatural destinadas a alterar o curso dos acontecimentos socialmente desaprovadas. Para ele o termo bruxaria (witchcraft) cobre todo o tipo de atividades malévolas (envenenamento, encantamento, sortilégio, feitiço, adivinhação por transe – witchery, sorcery, wizard ou frenzy witchcraft, etc. Esta última asserção não é alheia a uma noção do senso comum muito em voga na época, a dicotomia magia branca/ magia negra, resultante do raciocínio dual então dominante, mesmo nos meios científicos.

·     Evans-Pritchard:
 Pritchard em seu estudo sobre os azande conclui que para estes, um ato de bruxaria (witchcraft) é uma emanação, à distância, de uma substância nociva que o bruxo possui em seu corpo, através da qual provoca danos à saúde e aos bens de seus inimigos. Os azandes distinguem bruxos (witches) de feiticeiros (sorceres), operando os bruxos através de atos “psíquicos” (termo utilizado por Pritchard) e os feiticeiros através de ritos mágicos considerados ilícitos pela comunidade.

DIFERENÇAS LINGUISTICAS

·     Inglês:
O léxico inglês revela-se particularmente rico e especializado nesse domínio, fato que não ocorre em outros países.
Essa distinção revelou certo sucesso, sobretudo entre os autores de língua inglesa, que procuraram sua correspondência (mutatis mutandis) no âmbito da bruxaria européia. Assim temos:
Bruxaria (witchcraft): termo geralmente utilizado para designar o mito que envolve pacto com o demônio, vôo noturno e participação em assembléias coletivas (sabás).
Feitiçaria (sorcery): termo que abrange um conjunto de técnicas e ritos mágicos que se inserem no espaço cotidiano.
·     Francês:
Na França apenas podemos contar com um termo, socellerie, que abrange todo o campo semântico de witchcraft e sorcery. Michelet é um exemplo disso com sua feiticeira.
·     Alemão:
Na Alemanha há dois termos, hexenei e zauberei, embora as fronteiras dos respectivos significados sejam bastante fluidas.
·     Italiano:
Assim como na Alemanha há dois termos que são quase fluidos entre um e outro, stregoneria (bruxaria) e fattucchieria (feitiçaria). No caso italiano o termo stregoneria é o mais utilizado para cobrir inclusive os dois campos.
·      Espanhol:
Na Espanha, detectamos um fenômeno lingüístico paralelo: brujeria e hechicería.
·     Português:
Em Portugal há os dois termos bruxaria e feitiçaria. No caso Português os autores se ocuparam na diferença relativa à figura, distinguindo a figura da bruxa com a da feiticeira. Sendo as primeiras caracterizadas como mulheres solteiras, isoladas que lançam mau-olhado e pactuam com demônios. A outra lida com curandeirismo.



[1] Ver Francisco Bethencourt p.46-50

Comentários

  1. eu tbm li esse livro e destaco a opinião do autor que define a bruxaria como produto misturado de crenças pré-cristãs que sobreviveram com o cristianismo e a folclorização deste.

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