A dessacralização da Natureza e a consciência ambiental pagã

“Quem não se lembra do interesse com que, quando jovem, explorava os declives rochosos em busca de alguma caverna? Sobrevive em nós o pendor natural por essa vivência de nossos ancestrais mais primitivos. Das grutas evoluímos para os tetos feitos de folhas de palmeiras, cascas e galhos de árvores, tecidos de linhos estendido, capim e palha, pranchas de madeira e lascas de ardósia, pedras e telhas. Por fim, desconhecemos o que é viver ao ar livre, e nossas vidas são domésticas em mais aspectos que supomos” (Henry D. Thoreau – 1817-1862)

 1850 -Óleo sobre tela de E. F. Schute. Cachoeira de Paulo Afonso

            Atualmente a questão da preservação do meio ambiente vem cada vez mais ganhando destaque. A relação do homem com a natureza é vista hoje em dia pelo neo paganismo como destrutiva. Uma visão que se resumiria da seguinte forma: O ser humano tomado pela ganância do progresso e do dinheiro se impôs à natureza assumindo uma posição egoísta. Deixou de perceber durante muito tempo que era parte dela. Só agora nos últimos anos percebemos que essa maneira de pensar está acabando com o nosso planeta. Só agora estamos sentindo os resultados de nossa atitude irracional com a natureza. Terremotos, tsunamis, enchentes, aquecimento global, mudanças climáticas atípicas, são catástrofes ambientais noticiadas e comentadas todos os dias pela mídia. Nesse contexto vemos a atuação de vários grupos que se colocam à frente na defesa do meio ambiente. Vários grupos ambientalistas chamam a atenção para o problema dessa relação doente do homem com o seu planeta. Uma relação difícil de ser revertida, arraigada na mentalidade do ser humano contemporâneo. O grande historiador Fernand Braudel nos atenta para a questão da “mentalidade” afirmando que a “história caminha mais ou menos depressa, porém as forças profundas da história só atuam e se deixam apreender no tempo longo” (LE GOFF, 1991: 45). Essa mentalidade em relação à natureza é parte de um longo processo histórico, não aconteceu ao acaso, Para termos uma idéia dessa mentalidade, basta observáramos a tradição judacio-cristã, sobre o relato da criação, em Genesis 1: 26: está escrito “Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra”. Essa passagem ilustra bem nosso afastamento da natureza, o homem está muito mais perto dos anjos do que perto dos animais para a visão cristã, por isso temos aqui uma dominação legitimada pela crença da criação do mundo (Portanto para o cristianismo obviamente Deus criou o homem a sua imagem e semelhança e não a semelhança dos animais, uma importante separação com conseqüências gigantescas).
            O homem  ocidental ao longo dos anos deixou de lado o caráter sagrado da natureza, deixou de respeitá-la como algo divino e belo, claro que isso é de um ponto de vista teológico pagão (seguindo a noção de teologia pagã expressa por Michael York). O que mais encontramos em grupos de crenças pagãs, como a bruxaria neo pagã, o druidismo, o neo xamanismo entre outros é justamente o “chamado” para uma nova era de respeito à natureza, de mudanças de atitude. Seria uma espécie de resgate, dentro de uma visão romântica, mas com finalidades práticas válidas. O neo paganismo é fruto de um contexto em que preservação ambiental é o estar bem consigo mesmo, já que há uma explicação de que tudo deve estar interligado. É como a lei tríplice da bruxaria, se você faz o mal ele retorna três vezes mais intenso para você, se faz o bem, o bem retorna três vezes mais intenso para você. Dentro dessa ótica de causa e efeito presente na “teologia” pagã, por conseguinte, o mal feito à natureza também volta intenso, ou seja, através de catástrofes ambientais intensas. A conscientização ambiental que tanto se promove hoje em dia já é de certa maneira difundia há algum tempo pelos neo pagãos. O amor e as idealizações do paganismo em relação à natureza podem dar consistência as projeções futuras do que para muitos parece ser uma utopia. Desde que o homem separou a religião e a ciência e em nome desta última racionalizou tudo a sua volta, deixando o sobrenatural e o mágico marginalizado as classes incultas e “pagãs” (num sentido pejorativo) em nome do racionalismo iluminista a qual as "velhas crendices mágicas" pareciam não corresponder com as expectativas científicas em voga, a natureza parece ter deixado de ter para a grande maioria um espaço na imaginação, deixou de representar o misterioso e o desconhecido. Uma verdadeira dessacralização da natureza para muitas religiões reconstrucionistas.  

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