O Deus que Fala

Bom, mais uma vez esqueci uma data. Ontem dia 22 foi o Dia Internacional da água. E olha que água foi um dos assuntos mais abordados da semana passada. Infelizmente de uma forma trágica, o Tsunami no Japão pegou não só os japoneses de surpresa, mas sempre ficamos chocados com essas catástrofes, a gente acaba sendo surpreendido com notícias assim. Ainda mais quando são fatos trágicos. Mas hoje estava lendo o jornal de ontem (veja só o que são janelas de aulas para um professor, temos que ler tudo o que tiver se não o tempo não passa) e me chamou a atenção uma bela matéria do jornal Estadão, uma matéria sobre água. A reportagem assinada pelo repórter Leonencio Nossa e o repórter fotográfico Celso Junior, sé um relato de viagem do tipo expedicionária, que segundo o Estadão será lançado em livro pela Record. O nome da matéria: "Na trilha do Deus que fala". "Os quéchucas descendentes dos incas, costumam se referir ao Amazonas como o Deus que fala". Pela reportagem deu para pereceber que o rio Amazonas é um gigante de respeito, como descreve o jornal, sua magnitude é tão surpreendente que "até em tempos de Google Earth, o Amazonas tem trechos ignorados até nos mapas dos governos e Exércitos do Peru, da Colômbia e Brasil, países banhados por suas águas".  Infelizemente nem mesmo as áreas próximas a nascente do Amazonas estão protegidas da estupidez e cobiça. A construção de um canal de irrigação e uma represa ameaçam não só a nascente do rio, como sítios arqueológicos. "Ruínas como a de Mauk'Allaqta que contém urnas funerárias pré-incas e pinturas rupestres milenares". A reportagem é muito interessante e o elemento histórico dos relatos mais ainda. Vale lembrar que o livro é escrito por repórteres, portanto as informações são diretamente do povo e de relatos e guias, o que nos leva a uma aproximação incrível com  a cultura andina que ainda vive naqueles lugares. Também me chamou a atenção que em uma parte dos relatos os autores descrevem que "a caça as bruxas levou para os Andes a figura do Diabo, o Mal extremo, antes disso, os nativos viam o mal como complemento do bem". Essa passagem é elucidativa quando pensamos na colonização do imaginário dos indígenas. Uma dialética entre colonizador e colonizado, que nos remete as concepções trabalhadas por Serge Gruzinski em seu excelente "A Colonização do Imaginário: Sociedades Indígenas e ocidentalização no México Espanhol, sécs. XVI-XVIII". Bom, entre nascentes e deuses falantes, buxas e urnas funerárias, é bom saber que pessoas se interessam em trazer para nós simples mortais, recados dos deuses. Os repórteres no final das contas nos diz que o Deus que fala manda um recado do alto de seu Olimpo (a grande Cordilheira) de que precisamos prestar um pouco mais atenção ao nosso redor.

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