Religiosidade "New Age"



É uma pretensão sem tamanhos tentar dar conta de um tema tão amplo e complexo como esse em uma postagem. Tanto que temos de começar definindo o que é religião. Para sintetizarmos esta discussão, por hora basta dizer que ainda prefiro, no que se refere à uma teoria mais sistematizada, as idéias de Geertz.
A Nova Era não deve ser entendida como um movimento religioso, sua composição é heterogênea, de difícil classificação nas ciências sociais. As crenças que compõem a Nova Era também são de difícil compreensão classificatória, tornando assim este fenômeno algo problemático de ser investigado. Mas mesmo sendo de difícil classificação, a Nova Era é um fenômeno recente, mais especificamente um fenômeno presente na religiosidade moderna, ou pós moderna como descrevem alguns. Esta religiosidade pós moderna foi uma das responsáveis pela noção de “retorno ao sagrado” dentro dos estudos sociológicos da religião. Claro que definir o conceito de sagrado não nos cabe neste artigo. Mas muitos trabalhos sobre Nova Era referem-se à mesma como sendo uma religiosidade que busca uma nova forma de se relacionar com o sagrado. Essa é uma afirmação principalmente encontrada em Leila Amaral, uma das autoras que mais estudou o tema. Para entendermos como se dá o sincretismo dentro da Nova Era precisamos primeiramente entender o mundo de hoje. Para alguns autores como já foi dito, vivemos num mundo pós-moderno, em que as grandes narrativas, e aqui se inclui as religiosas, deixaram de influenciar em certa medida todos os aspectos da vida cotidiana. A religião não tem mais um papel central, não é a instituição responsável por definir todos elementos da vida do sujeito, a religião tornou-se apenas mais uma esfera na vida do indivíduo. Esse quadro da pós modernidade mostra como a religião não perdeu espaço como profetizaram alguns sociólogos, mas também não continuou tendo o espaço que tinha. Os adeptos da Nova Era são pessoas que tem a disposição um mercado religioso como outro mercado qualquer, por isso muitos sociólogos chamam a atenção para a noção de religiosidade selfservice. Mas um aspecto importante desta forma de religiosidade é a montagem de elementos religiosos, os adeptos se utilizam de vários elementos de diferentes religiões para montarem seu repertório religioso. Todos estes elementos no caso da Nova Era passam por uma idéia de experiência, o que conta é a experiência sentida pelos adeptos, não há uma religião institucionalizada, na Nova Era, o adepto tem de sentir a experiência religiosa. A sensação é outra característica deste fenômeno religioso, por isso que muitos centros holísticos fazem parte do circuito New Age. A noção de energia, aura, tudo isso compõem os elementos mais apreciados pelos new agers. No final toda essa composição que parece ser difusa e desconexa acaba fazendo sentido para a pessoa. Nessa montagem sincrética o individuo se encontra através de suas experiências. E é essa própria forma de arranjar os elementos que caracterizam o modo new age e pós moderno de ser. Não podemos desvincular a ideia de pós modernidade, seguindo o conceito de descentralização do sujeito, da noção de Nova Era, sendo assim, como descreve Leila do Amaral:

A mistura anárquica dessa religiosidade caleidoscópica parece oferecer, então, pela “carnavalização”, o seu sentido sociológico preliminar: colocar em presença falas, discursos e atitudes, nem sempre coerentes e harmoniosos, para inserir-se no meio das novas discussões desencadeadas pelo paradoxo da pós-modernidade. O pós moderno celebra a incerteza e a tolerância no trato com a diversidade mas enfrenta, por essa mesma razão, as dificuldades advindas da indiferença e da sensibilidade (AMARAL, 1979, p.72).


Podemos concluir que a Nova Era longe de ser uma religião organizada, tampouco uma religião, é uma forma de religiosidade que funciona através de sincretismos. E que esta maneira sincrética de rearranjar os elementos religiosos de tradições religiosas ou pseudo-cientificas (ou, como descreve Colin Campbell, ciência desviante) é uma elemento característico da religiosidade New Age. Embora haja diferenças doutrinárias nas religiões das quais provém estes elementos, ou seja, elementos budistas e cristão juntos, para o adepto da Nova Era o que importa é vivenciar e experimentar, de forma que tais elementos possam ser incorporados a seu repertório. Esse repertório se dá de maneira sincrética emuitas vezes incompreensíveis, não só em suas formatações como na tentativa de uma definição e conceitualização, daí a denominação “nebulosa”. A ideia de pós modernidade, a meu ver,  não pode ser deixada de lado quando se faz uma leitura deste tipo de religiosidade, já que refere-se a uma forma de religiosidade moderna e contemporânea e que surge com propostas modernas. A Nova Era é fruto das sociedades modernas e até certo ponto secularizadas.

AMARAL, Sincretismo em movimento, O estilo Nova Era de lidar com o sagrado. In: CAROZZI, Mária Julia. (org.). A Nova Era no MercoSul. Petrópolis: Vozes, 1999.

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