O que é o esoterismo? (parte 1)

Essa é uma pergunta que sempre gera um certo desconforto, como se fosse aquela sobre o tempo para Santo Agostinho, eu sei o que é mas não sei explicar. No campo das Ciências da Religião frequentemente nos é cobrado a elucidação e especificação de conceitos. Claro, só o nome de nosso campo de atuação já descreve a problemática (bela problemática diga-se de passagem) "Ciências" da "Religião", ou seja, nos é cobrado definir o que é Religião, e essa é uma resposta que não encontra consenso, do mesmo modo que a palavra " Filosofia" ou "História". Vale dizer que não me refiro a etimologia, mas ao seu aspecto de um saber. Como escreve o professor medievalista Ricardo Costa, se perguntar a dez historiadores o que é História terá dez respostas diferentes, se perguntar a dez filósofos o que é Filosofia, você terá dez respostas diferentes. Assim é a Religião,  e assim é a palavra "esoterismo". Quem está acostumado a ler os livros sobre a história do esoterismo sabe que os autores gastam poucas linhas para descrever o que é esoterismo, se limitam a no máximo dizer que se refere  a aquilo que está oculto. Bom até aí não há discussão a priori, mas além disso, poucos, muito poucos avançam. E aqui gostaria de recomendar um autor, um cientista da religião, que  tomei conhecimento a pouco tempo (infleizmente a pouco tempo), trata-se de Kocku von Stuckrad, um ganês que leciona  História da Filosofia Hermética em Amsterdã na Holanda. No Brasil não sei quantos livros dele foram traduzidos, mas a editora Globo publiou um deles, "História da Astrologia, Da Antiguidade aos Nossos Dias" (2007). Um daqueles raros achados para quem gosta de estudar a história do esoterismo no ocidente mas sabe que a bibliografia  em português é pobre. Nesse livro encontrei a definição mais interessante que vi sobre o que é esoterismo, ou melhor,  quais elementos e características estão por trás desse termo. Segundo Stuckrad (2007: 17), "desde o século XIX a palavra 'esoterismo' é alvo de constante debate entre os pesquisadores e interessados". Mas desde então como o autor mostra não passamos da definição mais comum que refre-se a algo interior, oculto, ou seja, que não está acessível à todos. Um pesquisador chamado Antoine Faivre, "titular da primeira cátedra do mundo de História do Esoterismo (na Sorbonne de Paris) propôs descrever o esoterismo como uma forma de pensamento com a qual a realidade é concebida de um modo específico" (Stuckrad, 2007: 17). E é exatamente esta definição que me chamou a atenção, com certeza é uma definição que nos serve muito bem para objetos de pesquisa relacionados ao tema.

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