O que é o esoterismo? (parte 2)

Continuando o último post sobre o  termo "esoterismo" e os elementos relacionados a ele, seguirei as observações de Stuckrad descritas em seu livro "História da Astrologia, Da Antiguidade aos nossos Dias" (Ed. Globo, 2007). Stuckrad chama a atenção que esta é uma definição prática do termo. Antoine Faivre descreveu seis características básicas do pensamento esotérico na sistemática científica, lembremos que por mais que seja difícil e um tanto trabalhoso, a ciência é feita de definições e conceitos, não temos como trabalhar sem essa ferramenta.  Esoterismo então envolve os seguintes elementos:


(1) Essencial para qualquer disciplina esotérica é um "pensar em correspondências". Pressupõe-se, com isso, que os diversos níveis ou "classes" da realidade (plantas, seres humanos, planetas, minerais, etc.), ou seja, as partes visíveis e invisíveis do universo, estejam ligadas entre si por um elo de correspondências. Essa ligação não deve ser entendida como causal, mas sim como simbólica, no sentido da frase "como em cima, embaixo", conhecida dos chamados manuscritos herméticos do final da Antiguidade.

(2) A idéia de "natureza viva" entende o cosmos como sistema complexo, dotado de alma e banhado por uma energia viva. A principal escola filosófica da Antiguidade a desenvolver um tal conceito do cosmos foi a "stoa", o qual viria a se tornar, mais tarde, um tal modelo determinante tanto para a chamada "magia naturalis" como para a filosofia natural.

(3) "Imaginação e mediações" indicam que o conhecimento acerca das correspondências exije uma grande capacidade de imaginação simbólica ou é revelado por autoridades espirituais (divindades, anjos, mestres, espíritos). Dessa forma os "hieróglifos da Natureza" são decifrados.

(4) Finalmente, a "experiência da transmutação" cria um paralelo entre a ação exterior e a vivência interior; em analogia à alquimia, o esoterismo preocupa-se em explicar o homem no seu caminho espiritual, possibilitando-lhe uma metamorfose interior.

Stuckrad nos chama a atenção para mais dois aspectos que devem ser levados em consideração no que se refere às características enumeradas por Faivre. Este acrescenta mais dois elementos aos traços básicos:

(5) A "prática da concordância" esforça-se em encontrar um denominador comum ou "origem pimordial" de diversas doutrinas que apenas se mostram sob outro prisma em diferentes épocas históricas.

(6) "Transmissão ou iniciação por mestres" significa que as respectivas doutrinas são frequentemente transmitidas por autoridades espirituais e que a transformação do fiel pode se tonar visível externamente por meio de ritos de iniciação.

Para Stuckrad, a vantagem de tal taxinomia reside em relacionar sistematicamente diferentes tradições - entre elas, o hermetismo, a gnose, a magia, a astrologia e a alquimia - sem elevar uma dessas tradições a categoria de "disciplina mestre". 
Para quem quiser saber mais sobre essas questões, há um livro de Stuckrad chamado Western Esotericism: A Brief History of Secret Knowledge .



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