Curiosos, Religiões e Museus.

1951 seria a data perfeita para se inaugurar um museu, principalmente com um acervo relativo a bruxaria e a magia, já que este ano como sabemos foram derrubados os famosos últimos atos contra a bruxaria de 1735 (com uma ajudinha da frente espírita que ganhava força desde o período pós vitoriano por assim dizer), Gardner principalmente não deixava de se gabar em dizer que aquele era o museu da bruxaria em na ilha de Man era o primeiro do genêro no mundo. Publicidade não faltou, o famoso artgio de Allen Andrews Calling all covens é desse ano, Williamson deu entrevistas, e no final das contas Gardner conseguiu chamar a atenção de muita gente interessada na bruxaria que acabaram tornando-se interessadas também em participar, mandavam cartas à Williamson repassava-as à Gardner, já que tinham um acordo de divisões de tarefas, Gardner era responsável pela parte mais informativa do museu. Mas será que foi o primeiro museu mesmo? Não sabemos, Aqui em terras tupiniquins lá pelo idos do começo do século XX já havia um acervo com um arsenal de bruxaria, e que era utilizado pela polícia. Segundo a antropóloga Yvone Maggie, "No Rio de Janeiro, peritos da polícia eram chamados a opinar sobre os materiais apreendidos e os classificavam como 'magia negra', parte do 'arsenal dos bruxos', 'objetos de bruxaria', coisas necessárias à mise-e-scène da macumba e candomblé', ' objetos próprios para fazer o mal, ebó (embó)" (p.38). Claro que esse era um contexto em que nossas feiticeiras e feiticeiros eram marginalizados mas não pouco requisitados, já que desde os tempos coloniais o catolicismo de irmandade brasileiro deu brechas para a atuação sem severidade aos macumbeiros e curnadeiros de plantão. Um relato de primeira pessoa interessante dos tempos em que as religiões e crenças eram proibidas, são as reportagens publicadas na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro por João do Rio intituladas "As religiões no Rio". João do Rio também se interessou assim como Gardner em estudar as manifestações religiosas e crenças, claro que João do Rio não era tão entusiasmado assim como Gardner nem encontrou um grupo mais exótico em vias de extinção no qual foi supostamente iniciado, pelo contrário, João estava mais para um Carl Sagan da época, numa das passagens ele conhece um senhor que lhe pede para apertar uma concha na mão e pensar no que quer no futuro, ele obedece e o velho diz, - se acontecer, ossuncê dá presente a Olôo? - Mas decerto - responde João, então depois de consultar o opelé o velho diz que vai dar certo, que o santo diz que dá. Aí João do Rio descreve dando seu sorrisinho Pobre velho malandro e ingênuo, eu perguntara apenas modestamente à concha do futuro se seria imperador da China. 

 João do Rio

Gardner está longe disso, mas cada um em seu contexto. Além disso tudo que fosse relativo as forças ocultas e sobrenaturais eram enquadras na categoria de bruxaria (pelo menos no Museu da bruxaria carioca). "Os artefatos recolhidos pela polícia em 'casas de fazer macumba' em terreiros e centros espíritas definidos como 'antros de buxaria' foram expostos no Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro e constituíam a prova material de que o feitiço existia... A coleção classificada como 'coleção afro-brasileira, jogos, entorpecentes, atividades subversivas, falsificações de notas e moedas, mistificações' está registrada sob inscrição n.1, de 5 de maio de 1938 (ganhou do Museu da Ilha de Man) no livro Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico Nacional (IPHAN). (MAGGIE, p.38). A título de curiosidade segue nossas leis contra a bruxaria: "Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar talismãs e cartomancias para despertar sentimentos de ódio ou amor; inculcar cura de moléstias curáveis e ou incuráveis, enfim para fascinar e subjulgar a credulidade pública", Artigo 157 do Código Penal de 1890 - Portanto alguns pagãos de hoje estariam maus lençóis no passado, e nem precisariam ir tão longe até a inquisição Moderna, bastava estar no Brasil republicano mesmo.

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