Sincretismos, hibridismos, multiculturalismo e pós-modernidade

 Artigo com colaboração de M. Angelina
Dentro do campo de estudo das religiões ou em outras áreas de investigação estes conceitos estão ligados a uma noção de dinamismo. Um elemento interessante no qual estes conceitos podem ser analisados é a pós-modernidade, termo que gera debates. O conceito de modernidade e pós-modernidade como caracterização dos tempos de hoje segue principalmente a leitura de Zygmunt Bauman chamado ironicamente por alguns de o profeta da pós-modernidade, termo que caracteriza uma condição da modernidade, popularizado primeiramente por Jean-François Lyotard (GIDDENS, 1991, p.12) e difundido por ele. Sua extensa obra sobre o assunto engloba várias discussões tanto afetivas como, por exemplo, o amor, quanto sociais, como as conseqüências da globalização. Outro teórico famoso é Antony Giddens conhecido como o principal teórico da chamada “terceira via”. Seu enfoque sobre a contemporaneidade descarta absolutamente qualquer tipo de relação com um conceito pós-moderno. Seu mais famoso estudo sobre o assunto, As conseqüências da Modernidade (1990) explica a modernidade principalmente pelo viés institucional, ou seja, sua análise vai ao encontro direto da essência e natureza das instituições modernas.
Em linhas gerais Zygmunt Bauman pretende nos mostrar com suas obras, que a principal característica da pós-modernidade está no fato de a mesma ser um conceito que representa a superficialidade no tempo contemporâneo e isso se deve principalmente ao fracasso da modernidade. Bauman ao expor o conceito de pós-moderno acabou em alguns pontos sendo mal interpretado, daí no decorrer da década seguinte, ele começa a utilizar o conceito de modernidade liquida. Isso se deve ao fato de que a pós-modernidade é entendida por muitos erroneamente como uma fase histórica, que antecede a modernidade, e aqui podemos notar o encontro das idéias de Baumn e Giddens, pois o último não aceita o termo pós-modernidade, como veremos mais a frente, Bauman para não dar a entender que se trata de um tempo histórico definido, acaba por caracterizar a pós-modernidade como modernidade líquida, sendo assim, nosso tempo contemporâneo ainda se caracteriza por ter em suas bases o pensamento forjado na modernidade, mas que está fracassado, por exemplo, em suas utopias. Para Bauman (2005, p7)

A ‘vida líquida’ e a ‘modernidade líquida’ estão intimamente ligadas. A ‘vida líquida’ é uma forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquido-moderna. ‘Líquido-moderna’ é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade líquido-moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.


Bauman nos mostra que para o homem moderno a questão da rotina e do trabalho ultrapassou as discussões morais, as utopias foram deixadas de lado, a ciência não salvou o homem, mas apenas tornou o mal mais preciso, cirurgicamente preciso. Daí o fracasso da modernidade apontado por Bauman. A idéia de se construir o paraíso na terra não serve mais. Sistemas políticos que iriam tornar a humanidade mais igualitária caem por terra em vista de uma nova mentalidade humana que vai se formando através de um novo tipo de sujeito pós-moderno que nasce.
Na mesma linha, mas desprezando o conceito de pós- modernidade está o pensamento de Antony Giddens. Para este a pós-modernidade ainda pode ser entendida como uma modernidade que está sofrendo descontinuidades, para que isso seja corretamente analisado o autor foca se estudo na essência das instituições modernas.
Stuart Hall, que segue essa idéia de pós-modernidade como um contexto em que o sujeito está descentralizado, ou seja não com uma mas múltiplas identidades percorre uma linha critica típica de uma leitura pós-colonialista. Sendo assim suas conclusões são àquelas relativas à idéia de fluidez que perpassa os dias de hoje.
Concordemos ou não com a noção de pós-modernidade para uma contextualização situacional do mundo globalizado, a característica de sua fluidez parece ser indiscutível. Françoise descreve que, “o mundo ocidental é hoje caracterizado, antes de mais, pelo refluxo contínuo das religiões e por adesões religiosas” (FRANÇOISE). Essa flexibilidade a qual se refere Françoise é para a maioria dos estudiosos da religião um reflexo dessa descentralização do sujeito a qual se referia Stuart Hall. Flexibilidade esta, inexistente em épocas pré-modernas.
As novas espiritualidades ou religiosidades paralelas (Françoise) refletem muito bem essa postura pós-moderna.
O sincretismo e o multiculturalismo são alguns dos termos que surgem para responder à várias indagações dentro deste contexto de pós-modernidade. A idéia de culturas múltiplas não pode ser dissociada da noção de identidades múltipla, pois ambas são criações modernas. Uma observação que chama a atenção sobre a questão do multiculturalismo e do hibridismo é o ressurgimento do nacionalismo no final do século XX apontado por Stuart Hall. Segundo Hall (2005, p.97) tanto o marxismo e suas esquerdas quanto o liberalismo preconizavam o fim das etnias como característica de diferenças, e viam com grandes idealizações a homogeneização global. O que aconteceu foi um reverso.
O sincretismo por outro lado, é um termo que, pelo menos no Brasil, está constantemente sendo reavaliado e reconceituado, devido em grande parte a questão de multiculturalismo e hibridismo. Isto porque esse termo se refere a questões étnicas e culturais como as que envolvem a religião e as questões de povos tradicionais. Um exemplo disso foi a noção de sincretismo como sinônimo de resistência, ou também como sinônimo de imposição de culturas dominantes.
Enfim, o que podemos concluir é que os termos hibridismo, identidades múltiplas e sincretismo vêm nos ajudar a entender antes de tudo um período que vivenciamos do qual muitas vezes parece não nos fazer sentido, mas que é rico em elementos e vivências diferenciadas. Haja vista as novas formas de religiões que surgem a cada dia.

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