Apontamentos sobre a História da wicca, interpretações sociológicas com base na Religião como escolha racional.

Janluis Duarte em uma dissertação sobre a formação da wicca nos anos iniciais buscou uma interpretação que levasse em conta os aspectos de invenção das tradições colocados por Hobsbawn, a primeira vista é tentador inserir a wicca nesse quadro metodológico, mas torna-se um exercício que beira o efêmero na medida em que o livro de Hobsbawn da destaque muito mais a símbolos nacionais e políticos do que a questões religiosas. Portanto entendemos que explicar a wicca somente por seus símbolos e elementos é apenas uma parte de um todo que compõe sua formação, sendo assim acreditamos que a noção de invenção das tradições cabe muito bem no estudo do paganismo moderno de viés romântico característico da Europa do século XIX onde a noção de paganismo estava muito mais ligada a valores estéticos, morais e políticos do que religioso, mas parando-se por aí. Janluis ao contrário continuou sua análise levando-se em conta a invenção das tradições na análise da formação da wicca, ou seja continuou utilizando-se da mesma base teórica para estudar a formação de uma religião. Nesse ponto entendemos que a partir do momento em que o paganismo moderno começa a ganhar contornos religiosos, a invenção das tradições não deve ser uma leitura exclusiva, pelo contrário é hora de nos basearmos em elementos mais sólidos que dêem conta da complexidade da formação de um culto, tanto porque é necessário não apenas darmos destaque aos símbolos mas também a difusão de uma nova religião entre as pessoas, sendo assim devemos estar atentos as questões que abordem as redes sociais, o envolvimento das pessoas, ou seja devemos ter em mãos um referencial teórico que seja mais claro no que se refere à formação de um movimento de culto. Para Stark (2008, p.249):
O estudo dos rituais e dos simbolismos religiosos é intrisecamente importante, mas não podemos nos equivocar pensando que ele e a explicação científica da religião são a mesma coisa.

Nessa perspectiva as obras de Gardner como elemento documental torna-se uma fonte rica de informações a respeito dos elementos ocultistas da Inglaterra do pós guerra, nos fornecendo as bases que formarão o capital cultural (referentes a rituais e símbolos) para novos adeptos que já estarão familiarizados com os temas ali expostos em sua obra, reencarnação, magia, graus, iniciações. Sendo assim se observarmos a teoria racional da religião veremos que Gardner como um fundador de culto, “inovou em explicações específicas preservando as explicações mais gerais que ganhou por experiência em cultos anteriores” (STARK, 2008, p.224), portanto não fugiu das idéias mais gerais que permeavam o ocultismo inglês da época. Utilizando-se de um aparato teórico que nos forneça bases mais seguras poderemos nos debruçar com mais segurança sobre a formação da wicca em seus anos iniciais e avaliar sua expansão e seu sucesso. Segundo Rodney Stark (2006, p.30), “a base para o sucesso de um movimento são as redes sociais, ou seja, uma estrutura que o autor chama de vínculos interpessoais íntimos e diretos. Gerald Gardner a exemplo disso, não converteu no principio da wicca pessoas desconhecidas. Patrícia Crowther, uma das figuras mais famosas da wicca, conheceu Gardner através de seu futuro esposo, Arnold Crowter, velho amigo de Gardner (CROWTHER, 200, p.22). Jeffrey B. Russel e Brooks Alexander (2008, p.177) descrevem que no final de sua vida, “Gardner iniciou e treinou pessoas para agirem como propagadoras e propagandistas de sua doutrina”. A wicca em seus primeiros anos estava então vinculada a uma rede social que foi se expandindo, pois
À medida que o movimento cresce, sua face social se amplia na mesma proporção. Em outras palavras, cada novo membro expande o tamanho da rede de vínculos entre o grupo e os mais propensos a se converterem (STARK, 2006, p. 31).

            A rede social da wicca se ampliou a ponto de Buckland, com autorização dos wiccanos britânicos, introduzi-la nos Estados Unidos. Apenas por esses fatos já podemos desenvolver a idéia de que a wicca é um movimento de culto, pois começou pequeno, com Gardner tendo novas idéias religiosas, atraindo novos adeptos e sendo exportada para os Estados Unidos através de suas redes sociais.
            É importante colocar que os movimentos de culto só terão sucesso se forem constituído por redes abertas. Nessa perspectiva parece que Gardner tinha consciência disso, na medida que quando apresentou a wicca, apresentou-a como uma religião aberta a todos, com muito menos exigências para se iniciar que as sociedades esotéricas da época. Além disso, Gardner estava convencido desde o início que a publicidade era a chave para a sobrevivência da wicca (RUSSEL e ALEXANDER, 2008, p.172). Isso foi até mesmo um forte indicio de motivo do rompimento entre Gardner e Dorienn Valiente sua amiga pessoal, que ajudou-o a escrever seu livro das sombras.
            Segundo Stark (2008, p.200) as grandes religiões começaram tipicamente “com um indivíduo obscuro com uma nova idéia religiosa, e que se esforçou para convencer um punhado de gente”. Sendo assim continuando na teoria de Stark podemos perceber que a formação de cultos, passa por um processo de inovação de duas fases. A primeira seria a inovação de novas idéias religiosas, e a segunda, a aceitação social dessas idéias pelo menos a ponto de criar um grupo de devotos (STARCK, 2008, p.201). Se analisarmos a wicca e seu fundador Gerald Gardner, veremos que o funcionário público inglês criou de fato novas idéias religiosas. Aqui vale fazer uma observação. Podemos considerar que Gardner criou novas idéias religiosas na medida em que transpôs para a realidade a bruxaria como uma religião outrora marginal, influenciado pelas teorias de Murray sobre a permanência da bruxaria como culto agrário. No segundo ponto colocado por Stark, basta recordarmos o que foi descrito sobre as redes sociais, Gardner conseguiu em pouco tempo alguns adeptos conseguidos principalmente por sua exposição midiática. Stark (2008, p.201) ainda descreve que “talvez a maioria das pessoas que encontram novas idéias religiosas não iniciam novas religiões. O “talvez” colocado por Stark se enquadra perfeitamente no caso de Gardner, que expos logo de início que a wicca é uma religião. No caso de Gardner a palavra antecede a ação, primeiro veio a religião, depois as idéias foram sendo elaboradas. Isso deixou margens a interpretações de charlatanismo. Gardner se encaixa muito bem na definição de Stark sobre os fundadores de cultos. Segundo Stark (2008, p.202):

Os fundadores de cultos são especialistas religiosos ou magos que estabelecem novas organizações para criar, manter e trocar novos compensadores.


Comentários

  1. I would like to discuss your work. Please send me an email at the address below. Thank you.

    Chas S. Clifton, editor
    The Pomegranate: The International Journal of Pagan Studies
    http://www.equinoxjournals.com/ojs/index.php/POM
    chas.clifton@colostate-pueblo.edu

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  2. Thanks Chas. For me is a great pleasure.

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