O Destino na concepção grega através de Homero

Esses dias tava passando um documentário sobre mitologia e falava muito sobre destino. Mas nós temos uma concepção de destino, será que é igual a dos gregos? Não sou especialista em História Antiga, muito menos em filosofia onde poderíamos talvez encontrar muito sobre esse conceito principalmente nos filósofos  gregos fundamentais, mas como ultimamante tenho feito muita análise de textos, romances, e outros, isso devido a minha dissertação, acho interessante buscarmos explicações em obras que não são necessariamentes voltadas a definição ou conceitualização de determinadas concepções, sendo assim, pensei em saber um pouco mais (um pouco mesmo) sobre a concepção de "destino" através de Homero. Bom o que encontrei foram alguns fragmentos que mencionam a idéia de "destino", coisa simples não espere um tratado sobre o assunto, até porque não sou o mais indicado para abordar temas ligados a História Antiga, principalmente os clássicos, como estou nomento trabalhando com abordagens do campo de estudos religiosos, nada melhor do que utilizar um autor bem conhecido, Mircea Eliade, que, apesar de trabalhar com a idéia de sagrado e profano, pode nos ajudar compreender essa concepção. Digo apesar de, por que estes dois conceitos na minha opinião e também de grande parte dos teóricos que sigo os consideram um tanto quanto problemáticos. Bom, mas sem mais delongas vamos ao que interessa. Ontem estava passando no History Channel uma série que não me lembro o nome sobre mitologia. Estava falando sobre o deus Hades (Ah sim, acabei de encontrar. A série se chama "O confronto dos Deuses"). Na verdade peguei o bonde andando, mas uma parte me chamou a atenção. Hades representa o Senhor do mundo subterrâneo e  da morte, como tal é impossível enganá-lo, pois não há como enganar a própria morte. Aliás a morte é algo que todos nós em nossa concepção natural e condição humana estamos "destinados", alguém já disse que o ser humano é o único animal que já nasce carregando seu cadáver (tem a idéia de que vai morrer). mas dois personagens da Mitologia conseguiram engana-lo, Primeiro Sísifo que modificou seu destino ao aprisionar com uma coleira Tânatos, numa segunda vez voltou a driblar a morte ao pedir que sua esposa não enterrasse seu corpo, sendo assim voltou a vida e fugiu com ela, no fim das contas morreu de velhice e foi obrigado a um castigo eterno de ter que rolar apedra até o cume da montanha, de lá a pedra caía novamente. O outro que tentou enganar Hades mas não foi bem sucedido foi Orfeu, o músico, depois que sua esposa Eurídice morreu numa cova de víboras ao tentar fugir de um sátiro ele foi até Hades encantando a todos com sua lira, o Deus do mundo subterrâneo encantado com sua múscia experimentou um sentimento (o amor) do qual nunca poderia experimentar de outra forma se não pela música de Orfeu que era um canto triste, e Hades lhe concedeu voltar com sua amada mas com a condição de que na volta não olhasse para trás, deveria confiar em Hades. Orfeu não resistiu e olhou para ver se a esposa o seguia, no fim a morte venceu. Sempre vence. Estas são duas histórias da Mitologia que nos remetem a idéia de destino. Vale dizer que o destino não estava "escrito" como entendemos hoje, a liberdade de escolha era parte do destino, numa amplitude mais macro podemos dizer que o ser humano, todos, estavam fadados sim a viver em plenitude, trabalhando e e exercendo sua criatividade. Mas essa concepção estava ligada a uma noção religiosa. Essa é uma pergunta dificil. Partiremos do ponto que sim e se julgarmos a religiosidade grega sob nossa perspectiva contemporânea baseada em concepções judaico-cristãs, veremos que esta religiosidade constituiu-se sob o signo do pessimismo e que a existência humana chega quase a ser efêmera e sobrecarregada de preocupações (ELIADE, 1976, p.91), mas essa é apenas uma primeira impressão, porém quando evitamos o fantasma do anacronismo a história fica muito mais interessante. O grego ao nascer já tinha sua vida decidida pelo destino, possuía desde cedo a môira ou aîsa, ou seja, a sorte ou quinhão que lhe foi atribuído. Sua morte era decidida no instante do seu nascimento, e a duração da sua vida era tecida com o fio do destino pela divindade (ELIADE, 1976, p.91). Nas obras literárias podemos encontrar menções e descrições que nos mostram o destino como estando presente na vida do grego: Então Tétis, chorando, respondeu-lhe: _Oh, Meu filho! Por que te concebi para um tão desgraçado destino? Por que não podes ficar, sem lágrimas e livre de pesares, junto aos navios, já que teu destino é curto e não durarás muito tempo? Bem cedo te pesou a condenação e o infortúnio. Para um destino cruel eu te concebi (Ilíada, p.16). As expressões “moira dos deuses” ou “aîsa de Zeus” deixam transparecer que o próprio Zeus é quem determina a sorte dos humanos. Telêmaco por ti próprio encontrarás certas palavras em teu espírito; uma divindade te inspirará outras; pois não acredito que tenhas nascido e crescido contra a vontade dos deuses (Odisséia, p.40). A princípio Zeus tem o poder de modificar o destino: Quando o filho do ardiloso Cronos os viu, encheu-se de piedade e disse à Hera, sua irmã esposa: _Ah! Este é o destino de Sarpédon, um homem que me é mais querido, morrer as mãos do filho de Menoécio, Pátoloclo. Meu coração é despedaçado pela dúvida, enquanto decidido, no espírito, se o retiro com vida da dolorosa batalha e o levo para a rica terra da Lícia, ou se o deixo cair agora às mãos do filho de Menoécio (Ilíada, p.253). Nas obras de Homero podemos tirar várias passagens que mostram a interferência dos deuses sobre o destino dos homens. Segundo Eliade (1976, p.93) “Os deuses não ferem os homens sem motivo, enquanto os mortais não transgridem os limites prescritos pelo seu próprio modo de existência”. Ajax, que se vangloriou de ter escapado à morte apesar da vontade dos deuses, acabou sendo abatido por Poseidon. Só dois chefes dos aqueus de brônzeas costas permaneceram no regresso; Quanto aos que morreram na batalha, tu estavas presente. Subsiste apenas um, retido vivo no vasto mar. Ajax sucumbiu com suas naus de compridos remos. Primeiro Poseidon impeliu-o contra as altas rochas de Gira e salvou-o das ondas; e teria escapado à morte, não obstante o ódio de Atena, se, por efeito de grande obcecação, não tivesse proferido uma palavra insolente: gabou-se de haver escapado, contra a vontade dos deuses, do profundo abismo do mar. Ouviu Poseidon essas palavras altivas e logo empunhando um tridente comas vigorosas mãos, cravou-o numa das rochas de gira, e fechou-a em duas, uma parte permaneceu no sítio, o outro fragmento, precisamente aquele onde Ajax estava sentado quando se sentiu tomado de delírio, esse precipitou-se nas ondas e arrastou para o abismo do imenso mar (Odisséia, p.63-64). Nas epopéias heróicas é constante a intervenção dos deuses, ora para auxiliar um protegido seu, ora para perseguir um inimigo (MARTINS, 1986, p.31). Os exemplos citados de Homero refletem para Eliade a idéias de que o homem deve viver totalmente e plenamente, mas com nobreza no presente, seria essa a lição de Homero segundo o historiador da religião.

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