Religião e Universidade

As Universidades tem de responder a diversidade religiosa de hoje? Se ela tem de atender a sociedade, como diz o discurso cientifico moderno, falta abrir espaço de diálogo a outros campos e outras minorias religiosas. A idéia de que uma religião só é religião se é entendida pelos cientistas sociais como tal é verdadeira? Quem diz que certa manifestação é uma religião ou não? Essas são questões que com certeza o neo paganismo lidou na América do Norte e na Austrália e tem de lidar em outros países inclusive o Brasil. Toda a discussão perpassa o que se entende por Religião em cada país também. Bom mas esse post está mais voltado a nossa discussão sobre o papel da Universidade na sociedade, já que vamos considerar o neo paganismo como uma manifestação religiosa que pode ou não ser entendida como uma religião, não por seus adeptos que na maioria esmagadora não tem dúvidas quanto a isso, mas na própria acadêmica. Resumindo, a universidade como instituição tem o papel e até mesmo poder de legitimar ou não certas manifestações religiosas como sendo religiões? Para isso devemos entender o papel da Universidade ou saber se ela tem mesmo um papel social. Vamos aos complicadores de nossa discussão. Primeiro, pensar a função social da universidade não é tarefa fácil, levando-se em consideração os aspectos atuais do mundo moderno então, aí a coisa fica mais complicada. Segundo, atribuir uma função social a universidade é seguir diretamente a linha de um modelo liberal que tem suas origens no Iluminismo europeu do século XVII, mas podemos recuar um pouco mais na história e entender o contexto do final da Idade Média, onde tem inicio o surgimento do modelo de universidade moderna que temos hoje. Nem sempre a universidade teve esse discurso de atender a sociedade, esse discurso nasce justamente como descreve Le Goff, no processo de formação das cidades medievais. Nesse processo não só a instituição tem seu caráter alterado mas até mesmo a própria noção do “saber” passa por uma transformação. As primeiras universidades surgiram na Idade Média e tinham como modelo educacional o método escolástico, ou seja a finalidade da universidade não era reverter o conhecimento produzido à uma comunidade abrangente, mas apenas instituir o saber pelo saber, e atender as premissas teológicas inerentes as questões políticas e apologéticas da Igreja. Com o florescimento das cidades e conseqüente elevação da nascente burguesia, a educação medieval que já passava por uma mudança significativa em vista das idéias humanistas que surgiam no seio da própria Igreja, o exemplo maior desse humanismo cristão é Abelardo, ganhava contornos laicos, que motivaram a emergência de um estilo liberal de se relacionar com o saber, daí vem a idéia de profissões liberais. Nesse processo começa a se formar a idéia de que a universidade deve atender não soa comunidade religiosa, mas como centro do saber deve espalhar sua produção para a população, nessa época entenda-se população por burguesia, já que a Revolução francesa libertou o “povo” das amarras da Igreja e da monarquia absolutista colocando em prática as idéias iluministas sistematizadas pelos próprios revolucionários. Isso mostra que a universidade está desde sua formação envolvida muito mais em questões políticas e embates de discursos do que ligada a uma busca de concepção de sua finalidade, essa é só uma conseqüência da primeira causa. No que podemos chamar de pós-modernidade, como descreve Lyotard, ou modernidade líquida, como descreve Bauman ou ultra modernidade, na concepção de Giddens, ou seja todos essas derivações servem para uma mesma realidade, a modernidade, se faz necessário observarmos que o discurso maior da universidade hoje é atender uma demanda de clientela ávida pela busca de diploma, onde a profissão está acima do conhecimento puro e simples, como era na escolástica, do saber pelo saber. Isso não esconde de maneira efetiva seu discurso idealizado de que o conhecimento deve voltar para a sociedade, que a produção intelectual não deve se manter e se conformar apenas dentro dos muros da instituição, mas na prática é o que acontece, a universidade acabou sendo mais uma escolha de carreira, disputando assim espaço com outras instituições, empresas privadas, carreira militar, etc... Essa noção é fruto da própria modernidade que prometeu uma revolução cientifica, onde a ciência responderia todas as duvidadas de todas as questões humanas. Mas pode se ver que a coisa não caminhou muito para essa direção, se por um lado a ciência trouxe benefícios por outro mostrou ao mundo sua face mais doentia, a precisão nas curas de doenças, também tornou o mal mais preciso, com armas de alto poder de destruição em massa. O racionalismo prometido pelos iluministas e buscado da modernidade resultou num homem mais pragmático, que tem dificuldade de lidar com seu pragmatismo, imediatista, e sujeito não mais as valores, mas a rotinas, Auschwitz e Treblinka que os digam.
Continua...

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