Witchcraft and Demonology – Montague Summers


Esse foi um dos primeiros livros que li sobre bruxaria, porém li na edição em português da coleção Runa publicada pela editora Vida de Portugal. Apesar de impreciso em suas análises quanto a realidade da bruxaria, o livro de Summers é um documento histórico de sua época, menos pelo que propõe e mais pelo que revela sobre sua época. Escrito na primeira metade do século XX, a obra é um misto de estudo psicológico, apologético com um forte discurso contra o materialismo e o espiritualismo. Não sabemos muito sobre a vida de Summers. Prolífico autor e tradutor com dezenas de livros sobre bruxaria, satanismo, demonologia, vampirismo e temas afins, Summers também se aventurou pelos campos da ficção, da poesia do teatro. 

Os dados sobre sua vida em parte são retirados de Montague Summers,A Bibliography (1964) de Timothy d'Arch Smith, da raríssima obra Montague Summers: A Memoir (1965) de Joseph Jerome e Montague Summers: A Bibliographical Portrai (1988) de Frederick S. Frank. Porém um retrato preciso e conciso de sua vida e produção relacionada a suas discussões sobre a bruxaria é fornecido por Juliette Wood no capítulo The Reality of Witch Cults Reasserted: Fertility and Satanism do livro Palgrave Advances in Witchcraft Historiography (2007). O texto de Wood me ajudou bastante a entender o contexto e dinâmica das ideias sobre a realidade do culto de bruxas na perspectiva de Murray e na perspectiva de Summers. Um excelente texto, que ajuda também a localizar a obra de Summers e entender o ponto de partida deste autor quando o assunto é bruxaria.  Não vou me alongar neste post, discutindo aqui os pressupostos e análises de Murray e Summers sobre a questão da realidade do culto das bruxas, para isso basta ler o capítulo de Wood. Porém, como o assunto é o livro de Summers, nada mais justo que pincelar alguns dados de sua biografia. Para isso utilizei o texto de Wood como referência principal. 

Augustus Montague Summers nasceu perto de Bristol numa confortável família vitoriana de classe média. Ele frequentou o Trinity College em Oxford e viveu ali durante a década de 1930 onde seu conhecimento das línguas modernas e clássicas lhe possibilitaram usufruir da Bodleian Library. Em suas primeiras viagens europeias ele acabou se aproximando do Catolicismo Romano e em 1909 converteu-se a esta religião. A promoção de sua autoimagem foi crucial no trabalho e vida de Summers, ele costumava usar um traje clerical exótico que lembrava um abade da época de Luiz XIV. Seus gostos nostálgicos pareciam recuar à um mundo romantizado do século XVIII.

Montague Summers (Wikipedia)

Summers tinha um profundo interesse nos rituais da Igreja e uma forte crença no sobrenatural. Suas poesias iniciais, ao estilo de Wilde e Swinburne, incluíam poemas religiosos barroco, uns com tons homoeróticos e alusões ao satanismo. Wood conta que um amigo de Summers afirmou que ele e Summers eram ativamente envolvidos com homossexualismo e Missa Negra nos anos de 1918 a 1923, porém como diz Wood, não há como saber a verdade por trás de tais afirmações.

Tanto o livro The history of Witchcarft and Demonology e The Geography of Witchcraft aparecem na História da Civilização publicada pela Kegan Paul cuja intensão era examinar mudanças nas atitudes culturais no pós Primeira Guerra Mundial. O editor da série, C. K. Ogden, autorizou Summers a fazer dois volumes sobre bruxaria e, fora dos volumes da série, escrever sobre lobisomens e vampiros. Summers nestes volumes e em todos os seus escritos nutria uma certa nostalgia pelo passado. Para ele a sociedade moderna tinha se agarrado a Ciência em detrimento do sobrenatural. 

Além da edição em português que tenho de The history of Witchcarft and Demonology tenho a belíssima edição em inglês publicada pela Castle. Esta edição de 1992 é em capa dura num tom de vermelho ocre com letras douradas na lombada do livro. A sobrecapa traz a figua de um Baphomet preto num fundo vermelho. Mais uma obra importante e lindíssima do meu humilde acervo. 

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